4.1.09

Parapeito muito estreito ii)

Do outro lado do vidro que me rouba os cheiros e me abafa os ouvidos, há sempre alguém que, de dentro da sua janela, escuta abafos duplicados do que eu respiro sem pressa, fora de horas. Quando estou sozinho, a minha inconsciência liga uma música qualquer,que bate na vidraça e volta quase toda para dentro, a tentar ocupar a tua falta, enquanto eu espeto o nariz no vidro, sem me lembrar que vou deixar marcas perpétuas, visíveis a contra-luz, muito por força da falta de jeito de quem limpa.
Um ou outro ponto de luz na altura dos prédios que se opõem ao meu parapeito, gritos abafados (e evidentes) de solidão ou de outro qualquer sentimento da família da ausência, entretêm-se no reflexo dos meus olhos pequenos de sono. Perco o fio à meada quando a minha consciência me grita que "a man's got to do what a man's got to do", concluo que a saudade é mesmo uma palavra cheia, e fecho a persiana.

1 comentário:

Anónimo disse...
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