Espero por ti no intervalo de uma das tardes compridas na biblioteca de física. Sempre que me sento no degrau de lata verde-garrafa, reparo na minha sombra, a enrolar-se na da árvore velha, que deve ser respeitosamente comprida a caminho das nuvens, nunca olhei para cima, tantas vezes aqui me sentei, e que num novelo escuro desce as escadas até ao alcatrão daquela curva que nenhum carro consegue fazer à primeira.
A calma com que enrolo uma noz do tabaco comprado a meias na papelaria do Lumiar, logo a seguir à esquina do cabeleireiro do maricas brasileiro e das três quarentonas louras, que começam a falar sobre lagostins grandes e vermelhos sempre que eu passo, onde toda a gente faz o euromilhões e ninguém ganha nada, assusta-me. Os meus dedos são indiferentes ao frio que vem com o vento enrolado da esquina e à personalidade viva do meu pessimismo, que é como uma máquina de pipocas a estalar bocadinhos de nervoso miudinho, descontrolada. Fiz uma barriga ao cigarro por estar a olhar para a sombra, decido que não faz mal, talvez demores uns minutos, vai dar jeito um cigarro comprido.
Sei sempre quando levantar a cabeça, sorrio com a certeza que, lá de cima, com o teu cabelo de sombra que enrola com o vento da esquina, vem um novo alento, num passo desajeitado de pernas compridas de fazer inveja. Sorris de volta.A calma com que enrolo uma noz do tabaco comprado a meias na papelaria do Lumiar, logo a seguir à esquina do cabeleireiro do maricas brasileiro e das três quarentonas louras, que começam a falar sobre lagostins grandes e vermelhos sempre que eu passo, onde toda a gente faz o euromilhões e ninguém ganha nada, assusta-me. Os meus dedos são indiferentes ao frio que vem com o vento enrolado da esquina e à personalidade viva do meu pessimismo, que é como uma máquina de pipocas a estalar bocadinhos de nervoso miudinho, descontrolada. Fiz uma barriga ao cigarro por estar a olhar para a sombra, decido que não faz mal, talvez demores uns minutos, vai dar jeito um cigarro comprido.
Aqueces-me com um beijo, enrolas-te em mim para afastar o frio e eu sinto o cigarro tremer na ponta dos dedos. Assustas a minha indiferença.
4 comentários:
zé continua!!! é so o que te digo...
gosto e muito:)
Muito bem, sim senhor. Gostei particularmente da 'máquina de pipocas a estalar bocadinhos de nervoso miudinho'.
Não devias fumar, faz-nos pensar demasiado ;)
Abraço
Enviar um comentário